Quem vai substituir Davi Diniz na Casa Civil do governo Casagrande?
- O Cenário
- 5 de mar. de 2024
- 6 min de leitura
Por ora não há nada definido, mas listamos os nomes ouvidos nesta apuração como possíveis sucessores de Davi, com os prós e contras de cada um

Davi Diniz discursa logo após ser eleito conselheiro do TCES pelos deputados estaduais (04/03/2024). Foto: Mara Lima/Ales
O secretário-chefe da Casa Civil, Davi Diniz, foi eleito oficialmente nessa segunda-feira (4) para o lugar de Sérgio Borges como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES). A dúvida que fica agora é: quem vai praticar o dinizismo no time de Renato Casagrande, isto é, quem vai ocupar o lugar ocupado desde 2019 por Davi Diniz na Casa Civil, assumindo a sua função como o principal responsável pela articulação política do governo com a Assembleia Legislativa?
O cargo exige algumas características que sobravam em Davi Diniz: além de elevada capacidade de negociação política, é preciso ser discreto ao extremo e aparecer o mínimo possível. Afinal, o chefe da Casa Civil é quem faz o “serviço sujo” em nome do governador. Não estou falando de nada irregular, mas simplesmente de acordos políticos que a nenhuma das partes interessa sair divulgando por aí: liberação de verbas, preenchimento de cargos no governo etc. em troca de apoio, governabilidade e aprovação de projetos do Executivo na Assembleia.
Pela natureza da função, convém ainda que o chefe da Casa Civil seja alguém que reconhecidamente não cultive aspirações eleitorais, sob o risco de inviabilizar o próprio trabalho.
Primeiro porque esse secretário precisa passar quase o tempo todo buscando resolver os problemas do governo, os dos deputados e os do governo com os deputados. Não sobra tempo para se concentrar na própria carreira política.
Segundo porque, enxergando-o como potencial rival nas urnas, alguns deputados da base poderiam se sentir muito pouco à vontade em negociar acordos políticos com ele.
Diniz também tinha tudo isso a seu favor. Nunca foi nem nunca quis ser candidato a nada (a não ser agora, ao TCES). Tampouco os chefes da Casa Civil mais lembrados dos governos Casagrande, como Luiz Carlos Ciciliotti, e Paulo Hartung, como Sérgio Aboudib, Roberto Carneiro e José Carlos da Fonseca Junior (este já tinha parado de disputar mandatos quando exerceu a função).
Tudo isso posto, vamos aos nomes ouvidos nesta apuração como possíveis sucessores de Davi Diniz. Por ora, não há nada definido. Mas são nomes de fato cotados.
Ricardo Claudino Pessanha
Seria uma solução caseira. O advogado nascido em Cachoeiro é um técnico sem militância partidária nem pretensões eleitorais. Teria como principais apoiadores o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) e o deputado estadual Tyago Hoffmann (PSB). Colabora com a gestão de Casagrande há alguns anos, desde o início de 2019.
No governo passado, passou por alguns cargos nos dois primeiros escalões. De janeiro de 2019 a março de 2021, foi subsecretário estadual de Governo, pasta então comandada por Tyago Hoffmann.
Quando este se tornou o chefe da Super Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides), Pessanha virou subsecretário de Estado de Gestão e Parcerias.
Em abril de 2022, quando Tyago se desligou do governo para se candidatar a deputado estadual, ele assumiu o comando da pasta. Ficou no cargo até o fim de 2022. Com a reeleição de Casagrande, o governador voltou a desmembrar a Secretaria de Desenvolvimento (Sedes) da Sectides e a deu para Ricardo Ferraço chefiar. Pessanha, então, voltou a exercer o cargo de subsecretário de Estado de Gestão e Parcerias, mas sob o comando de Ferraço na Sedes, onde está até hoje.
Tem a discrição e experiência no governo. Não tem pretensões eleitorais. Precisaria aprender a negociar com os deputados.
Emanuela Pedroso (Podemos)
Embora jovem, tem experiência política, conhecimento técnico e tem ganhado muito espaço e projeção na equipe do atual governo Casagrande, como secretária de Estado de Governo. Chegou à equipe de Casagrande no início de 2021, levada por Gilson Daniel quando ele foi nomeado secretário de Governo.
Em abril de 2022, ela se tornou secretária estadual de Planejamento. Desde o início da atual administração, em 2023, comanda uma Secretaria de Governo (SEG) turbinada com a gestão do Fundo Cidades.
Algo que pode pesar contra Emanuela é que ela é cotada para se candidatar a deputada estadual daqui a dois anos. Na Casa Civil, teria muito menos visibilidade do que alcança na SEG. Além disso, se Casagrande a escalar para a Casa Civil, terá de designar alguém para o lugar dela na SEG. Seria uma dança das cadeiras.
Sérgio Borges
Um nome que não pode ser esquecido é o do próprio Sérgio Borges, conselheiro do TCES aposentado em janeiro e agora substituído por Davi Diniz. Seria uma inusitada e indireta inversão de posições. Borges está livre no mercado. É aliado de Casagrande.
Em sua cerimônia de despedida, em dezembro passado, o governador lhe deu uma cantada pública, dizendo-lhe que ainda tem muito a contribuir com o Espírito Santo e que, onde quer que esteja, vai seguir contribuindo. Borges, por sua vez, afirmou em entrevista à coluna que pretende voltar a exercer a atividade política.
Experiência política não lhe falta para atuar na Casa Civil. Ele foi deputado estadual por alguns mandatos e chegou a ser líder do governo Casagrande na Assembleia em parte do primeiro governo do socialista (2011-2014).
Juninho Abreu
Correndo por fora, José Maria de Abreu Junior, o Juninho Abreu, é um nome que pode ser talhado para a função. Chegou à equipe de Casagrande em 2019, no início do governo passado, indicado pelo então deputado federal Sergio Vidigal (PDT) para dirigir a Secretaria de Estado de Esportes e Lazer (Sesport).
Hoje não está mais na “cota de Vidigal”. Desenvolveu relação política direta e de confiança com o governador. No momento, é diretor de Relações Institucionais da Cesan. É um cara discretíssimo.
Os três nomes seguintes são muitíssimo pouco prováveis, já podem ser riscados da lista, mas vamos citá-los porque foram mencionados por fontes nesta apuração:
Dary Pagung (PSB)
O líder do governo da Assembleia conhece os colegas como ninguém e, pela experiência de vários mandatos e alguns anos na função de líder, está calejado na arte de negociar com os deputados da base e da oposição em nome do governo, fazendo a mediação justamente entre a Casa Civil e o plenário.
A questão é que Dary tem pretensões eleitorais e seu primeiro suplente é o secretário estadual de Ciência Tecnologia, Bruno Lamas (PSB), que assumiria o lugar dele na Assembleia. Assim, levar Dary para o governo representaria uma dupla substituição. Engenharia mais complexa.
Gilson Daniel (Podemos)
A chance hoje é nula, mas registramos aqui que essa especulação chegou a crescer no início de fevereiro, depois que Alexandre Ramalho saiu de Secretaria de Estado de Segurança Pública e do governo para ser candidato a prefeito de Vila Velha.
Escalando Gilson na Casa Civil, o governo Casagrande tiraria Ramalho do caminho do aliado Arnaldinho Borgo (Podemos) na eleição a prefeito de Vila Velha. Como era o primeiro suplente de Gilson na Câmara dos Deputados, Ramalho com isso assumiria seu mandato em Brasília.
Entretanto, antes que tal arranjo pudesse ter a chance de sair da teoria, Ramalho anunciou sua desfiliação do Podemos, abrindo mão da suplência na Câmara – entre outros motivos, justamente para dar um basta a essa especulação.
Além disso, para o próprio Gilson Daniel, não seria nada interessante trocar um mandato em Brasília para o qual foi eleito, com toda a visibilidade inerente ao mandato, por um cargo de secretário sem entregas e no qual ficará politicamente escondido, resolvendo os problemas dos outros (no caso, os de Casagrande).
Ora, atendo-nos ao nosso critério, se tem alguém nesta lista que cultiva aspirações eleitorais para 2026 é Gilson Daniel.
Erick Musso (Republicanos)
Por mais inverossímil que soe, tem quem jure que Erick foi sondado, apenas sondado, por emissários do Palácio Anchieta, para a Casa Civil. Como ele é o presidente estadual do Republicanos, seria uma maneira de atrair o partido para a base de Casagrande e cortar a aproximação eleitoral do Republicanos com o PL de Magno Malta em vários municípios, como em Vila Velha, afastando-o do Coronel Ramalho.
Em termos de relacionamento com os deputados e articulação política com eles, Erick faria o trabalho com um pé nas costas. Foi precisamente o que fez nos seis anos em que presidiu a Assembleia, mas em seu próprio nome.
Só tem um pequeno grande porém… Erick é visto hoje como adversário do grupo político de Renato Casagrande. Não tem a confiança do governador desde os tempos em que presidiu a Assembleia e lançou candidatura ao governo contra ele. Por que Casagrande escolheria alguém em quem não confia para responder por ele e por sua articulação política?
A política é terreiro fértil para a operação de milagres, mas esse aí nem os santos ou divindades mais fortes seriam capazes de operar.
O “dinizismo” de Davi Diniz
No futebol, o sistema de jogo inovador do treinador do Fluminense, Fernando Diniz, alcunhado por imprensa e torcedores como “dinizismo”, é caracterizado por muita aproximação entre os jogadores e um obsessivo toque de bola.
Na política capixaba, o “dinizismo” praticado por Davi Diniz guarda relações: muito toque de bola, muitas jogadas de aproximação, movimentação em campo, tabelas e triangulações.
Mas as personalidades dos dois são bem distintas. À beira do campo, Diniz (o técnico) é sempre nervoso e histriônico. Já o Diniz de Casagrande é sempre muito calmo e discreto.
Diniz adora futebol, mas é torcedor do Vasco da Gama, não do Fluminense.
A posse no TCES
Agora eleito para a vaga de conselheiro, Davi Diniz só será exonerado da Casa Civil quando tiver a indicação para o TCES publicada pelo governador Renato Casagrande no Diário Oficial do Estado. Sua posse no TCES está pré-agendada para o dia 12 de março, às 14 horas, segundo a assessoria do tribunal.
Fonte: ES360
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