CELSO ANDREON: A polarização ideológica na política brasileira
- Cenário Capixaba
- 30 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
Uma sociedade democrática ela amadurece e se fortalece com os acontecimentos históricos sendo assim o Brasil ainda tem muito chão para percorrer para a consolidação de sua democracia.
Interessante fazer uma breve linha do tempo. A independência do Brasil aconteceu no ano de 1822. Nossa historia foi marcada por um período de oligarquias (1937-1945) Republica Velha e autoritários tanto como o Estado Novo (1937-1945) e do Regime Militar (1964-1985). Vejam que temos 201 anos de Independência e a redemocratização aconteceu 1985 quando um presidente civil é conduzido a cadeira de presidente rompendo assim o ciclo dos governos militares.
A nossa constituição foi promulgada em 1988 instituindo o Estado Democrático de Direito. São 201 anos de Independência e 35 anos de redemocratização com esse breve paralelo precisamos reconhecer: somos uma jovem democracia que ainda está em pleno processo de aprendizado e formação.
Porque essa introdução para adentrar ao tema da polarização politica? É simples, ela sempre esteve presente no processo politico e eleitoral brasileiro com alterações de colorido e roupagem dos atores. Qual a novidade então da atual polarização? Simplesmente que “o eleitor”, que agora enxerga e entende o jogo politico!
Esse eleitor que acompanha a cena politica com muita desconfiança também tem se perguntando com qual dos polos se identifica e até mesmo se algum deles os representam. Quando nos deparamos com os números da ultima eleição presidencial fica exposto uma fragilidade dessa polarização.
Acompanhe o comportamento oscilante com tendência de alta, no 2º turno das eleições presidenciais, das abstenções, nulos e brancos desde a redemocratização:
2022 - Total: 25,19%
2018 - Total: 30,87%
2014 - Total: 27,44%
2010 - Total: 28,20%
2006 - Total: 25,03%
2002 - Total: 26,46%
1989 - Total: - 20,21%
Lula obteve 50,90% e Jair Bolsonaro 49,10% dos votos válidos. Mas se levarmos em consideração todos os eleitores aptos a votar e que uma parcela significativa tem escolhido não optar veremos que o opinião do eleitorado e sua posição politica divide esse bolo em três partes.
Considerando que o eleitorado tem se manifestado nas urnas em boa medida escolhendo quem ele não quer que saia vitorioso (voto de rejeição) dado que não vê também no outro candidato as virtudes e qualidades que pensa serem necessárias para governar o povo. Nas palavras simples do dito popular “vota-se nos menos pior”.
Quando nos detemos a analisar os 100% dos votos totais da ultima eleição presidencial temos o seguinte cenário:
Comparecimento: 79,41 % e 20,59 de abstenções;
Dos 79,41% foram 3,16% de nulos e 1,43% de brancos;
Dos 74,82% votos dados a um dos candidatos: 38,08% Lula e 36,74% Bolsonaro.
Quando somadas as abstenções, nulos e brancos chegamos a 25,18%.
Se levarmos em conta Pesquisa Datafolha divulgada na véspera das eleições teremos a trágica constatação da rejeição de ambos os candidatos. Sendo que 50% dos eleitores não votariam no candidato Jair Bolsonaro (PL), enquanto os que responderam não votar em Lula (PT) bateu 46%.
Você deve estar se perguntando de novo mais o que o processo eleitoral tem a ver com a polarização politica?
Agora podemos afirmar que no Brasil as ideias de direita e esquerda não se aplicam com todo seu arcabouço conceitual tendo em vista que o eleitor brasileiro culturalmente não vivenciou por parte de suas lideranças politicas, partidos e de seus governos experiências puras com base nos pilares do pensamento de direita e nem mesmo de esquerda. Todas acabam navegando nos mares da socialdemocracia com ações pontuais que sinalizam mais a direita ou mais a esquerda.
Vejamos então alguns desses pilares que possam ajudar a identificar pontos de convergência do pensamento de direita.
a) Defende a minimização do poder estatal sobre o cidadão como forma de reduzir a corrupção, garantir liberdade e promover desenvolvimento econômico. Também significa primar pela redução de gastos com os setores públicos, diminuição dos encargos/impostos e a redução na regulamentação das empresas.
b) O livre mercado como forma de redução da pobreza, diminuição da corrupção e garantia dos direitos individuais (liberdade).
c) A meritocracia é essencial para tirar pessoas da miséria, uma vez que a premiação do mérito incentiva o ser humano a produzir riquezas para si, mas que consequentemente geram benefícios para toda a sociedade.
d) Ressalta que o melhor programa social é a geração de empregos pela economia de mercado, porem, defende que em algumas circunstâncias o Estado precisa executar politicas sociais assistencialistas.
O pensamento de direita enaltece e valoriza os indivíduos livres, independente e responsáveis pelos seus atos e escolhas assumindo os desdobramentos que por ventura ocorram sejam eles positivos ou negativos. Entende como necessária e suficiente a igualdade político-jurídica como garantidor de oportunidades para indivíduos de uma mesma sociedade. Esse pensamento na maioria das vezes está alinhado ao conservadorismo com destaque a religião e a família.
O pensamento de esquerda apresenta uma visão de sociedade no qual os indivíduos devem se submeter ao comando do Estado que conduzirá o povo a igualdade social, onde todos terão acesso as mesmas oportunidade. Para que o Estado consiga prover essa igualdade precisa ser forte e gigante para executar as politicas de controle social e as politicas publicas de Assistência Social, Saúde, Educação, Segurança, Desenvolvimento, Infraestrutura, gerenciamento dos negócios públicos, Moradia entre outros. Para executar todas essas atividades para ter um Estado forte se precisa arrecadar impostos e quanto maior a máquina publica mais impostos se fazem necessários.
Apresenta uma tendência de taxar as riquezas. Sua ação politica é de fortalecimento dos movimentos sociais e dos grupos intitulados como minorias. Considera que a comunidade, deve agir em benefício daqueles em desvantagem relativa a outros dentro da mesma coletividade.
Esse breve discorrer de ideias nos ajuda numa percepção: que o eleitor brasileiro que pende para nenhum dos lados é simpático ao pensamento politico de centro. Verificamos que esse eleitor tem se manifestado nas urnas com um pensamento politico de centro (mesmo sem um nível elevado de consciência) visto os resultados das urnas do ultimo período.
Esse pensamento de centro é reconhecido como uma força que busca o equilíbrio e a conciliação entre as forças de esquerda e direita inibindo que mudanças agressivas sejam implementadas tanto de um lado como do outro. Os partidos de centro são acolhidos como uma alternativa aos extremos.

Celso Andreon
Vereador por dois mandatos consecutivos, cientista político, filósofo, educador popular, professor e o principal: ministro da palavra de Cristo.
Agente público há 30 anos. Sua prioridade é pautar educação, desenvolvimento econômico e bem-estar social.
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